Na manhã do dia 29 de maio de 2025, o cenário do funk carioca foi abalado por uma notícia que rapidamente se espalhou pelas redes sociais e veículos de imprensa: MC Poze do Rodo, um dos maiores nomes do gênero, foi preso em sua residência, um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A operação, conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil, trouxe à tona acusações graves de apologia ao crime e envolvimento com o tráfico de drogas, reacendendo debates sobre a criminalização do funk e os limites da liberdade de expressão. Mas o que realmente aconteceu? Vamos mergulhar nos detalhes desse caso que gerou polêmica e dividiu opiniões.
Quem é MC Poze do Rodo?
Marlon Brendon Coelho Couto da Silva, conhecido como MC Poze do Rodo, é um fenômeno do funk carioca. Nascido na Favela do Rodo, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, o artista conquistou milhões de fãs com hits como “Diz Aí Qual É o Plano?”, “Me Sinto Abençoado” e “A Cara do Crime”. Com mais de 15 milhões de seguidores nas redes sociais, Poze é conhecido por suas letras que retratam a realidade das comunidades e por um estilo de vida ostentador, com carros de luxo e joias chamativas. Casado com a influenciadora Viviane Noronha e pai de cinco filhos, ele é uma figura central no cenário cultural do Rio.
No entanto, sua trajetória não é isenta de controvérsias. Poze já enfrentou problemas com a justiça em outras ocasiões, como em 2019, quando foi preso em Mato Grosso por acusações semelhantes, e em 2023, na Operação Rifa Limpa, que investigou sorteios ilegais nas redes sociais.
A Prisão de 29 de Maio de 2025
Na madrugada de quinta-feira, 29 de maio, agentes da DRE cumpriram um mandado de prisão temporária na casa de Poze. A operação também incluiu busca e apreensão, com a polícia recolhendo joias, celulares e documentos, embora nenhuma arma ou droga tenha sido encontrada. O cantor foi levado algemado, descalço e sem camisa, o que gerou críticas de apoiadores e defensores, que apontaram excesso e humilhação no procedimento.
A prisão foi motivada por dois principais fatores, segundo a Polícia Civil:
- Apologia ao Crime: As autoridades afirmam que as letras de Poze ultrapassam os limites da liberdade de expressão, promovendo a narcocultura do Comando Vermelho (CV), a maior facção criminosa do Rio. Músicas como “Tropa do General” contêm referências explícitas ao CV, incluindo exaltação a líderes da facção e menções a armas e confrontos com rivais, como o Terceiro Comando Puro (TCP) e a Amigos dos Amigos (ADA). Um vídeo de um show na Cidade de Deus, em 17 de maio, foi pivotal na investigação, mostrando traficantes armados com fuzis na plateia enquanto Poze cantava.
- Envolvimento com o Tráfico: A polícia alega que Poze realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV, com a presença de traficantes armados garantindo a “segurança” dos eventos. Esses shows seriam financiados pela facção, contribuindo para o aumento do consumo de drogas nas comunidades e, consequentemente, para o fortalecimento financeiro do grupo.
O estopim para a prisão foi o baile na Cidade de Deus, ocorrido dois dias antes da morte do policial civil José Antônio Lourenço, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), baleado em uma operação na mesma comunidade. Embora não haja ligação direta comprovada entre o show e o crime, a polícia aponta que a presença de Poze reforça a influência do CV.
Reações e Polêmicas
A prisão de Poze gerou uma onda de reações. O cantor, ao ser transferido para a Polinter, declarou à imprensa que se trata de uma “perseguição” e que “não há provas” contra ele. “Quem eles têm que pegar tá lá no morro, não sou eu”, afirmou, negando envolvimento com o tráfico. Sua esposa, Viviane Noronha, e amigos, como o rapper Oruam, também saíram em sua defesa, usando camisetas com a frase “MC não é bandido” e organizando protestos, incluindo um “rolezinho” de motociclistas na Zona Norte do Rio.
A defesa de Poze, liderada pelo advogado Fernando Henrique Cardoso Neves, classificou a prisão como uma “narrativa antiga” e anunciou a intenção de entrar com um habeas corpus. Eles argumentam que as acusações são baseadas em interpretações subjetivas das letras e que a prisão foi “espetacularizada”, com uso desnecessário de algemas, violando a súmula vinculante 11 do STF.
Políticos e pesquisadores também se manifestaram. Deputadas do Psol, como Talíria Petrone e Érika Hilton, criticaram a operação, apontando racismo institucional e criminalização do funk. Segundo elas, a prisão reforça preconceitos contra a cultura periférica. Por outro lado, o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, defendeu a ação, afirmando que as músicas de Poze são “mais lesivas que um tiro de fuzil” por propagarem a ideologia do CV.
A Soltura e as Medidas Cautelares
Em 2 de junho de 2025, a Justiça do Rio concedeu habeas corpus a Poze, revogando a prisão temporária. O desembargador Peterson Barroso Simão, da 5ª Câmara Criminal, criticou a conduta da polícia, apontando que o cantor foi tratado de forma “desproporcional” e que a prisão não se justificava, já que não havia provas concretas de posse de armas ou drogas. Poze foi liberado, mas deve cumprir medidas cautelares, como comparecimento mensal ao juízo, proibição de se comunicar com investigados e permanecer à disposição da Justiça.
O Debate Sobre o Funk e a Liberdade Artística
A prisão de Poze reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão no funk. Especialistas, como o doutor em direito Danilo Cymrot, apontam que o gênero muitas vezes retrata a realidade das comunidades, mas a linha entre ficção e apologia ao crime é tênue. A polícia argumenta que as letras de Poze incentivam a violência e glorificam o tráfico, enquanto a defesa e apoiadores insistem que se trata de uma expressão artística que reflete a vida nas favelas.
O caso também levanta questões sobre a narcocultura e o papel da música na disseminação de ideologias criminosas. Para o sociólogo Eduardo Matos de Alencar, o funk de artistas como Poze pode glamorizar o crime, mas a repressão deve focar os líderes das facções, não os artistas.
O Futuro de MC Poze do Rodo
Enquanto as investigações continuam, Poze segue em liberdade, mas sob escrutínio. Sua prisão e soltura reacenderam discussões sobre a criminalização do funk, o racismo estrutural e a complexa relação entre cultura e crime no Brasil. Para os fãs, Poze continua sendo o “Rei das Favelas”, um símbolo de superação. Para as autoridades, ele representa um desafio na luta contra o tráfico.
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